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Os filhos e a Governança

Você daria um cheque em branco na mão de um desconhecido? É provável que não, e, se o fizer, provavelmente terá caído em algum tipo de golpe ou necessite de alguma ajuda psicológica profissional. Mudando um pouco o exemplo, você daria um cheque em branco na mão de um parente próximo (pai, mãe, cônjuge, filho (a)), que resida na mesma casa, com a finalidade de fazer compras e garantir a segurança alimentar da família, sendo que o portador do cheque tem que retornar com as compras e a nota fiscal do valor gasto no mercado? O segundo exemplo parece mais razoável. Sem querer você criou regras de governança. Não importa quem seja o portador do cheque, ele terá que cumprir determinadas regras para gastar o valor dado trazendo alimentos para toda a família.

O portador do cheque é aquele que vai fazer a gestão do recurso. Supondo dois perfis de portadores, uma esposa, para quem fazer compras é uma rotina mensal, e um adolescente, com pouca experiência em mercado. Se a esposa for ao mercado sem nenhum tipo de lista é provável que compre os itens utilizados na casa, as marcas com melhor custo benefício que a família já se acostumou a usar e que possuem um preço acessível ao orçamento familiar. Talvez esqueça algum item, mas algo residual. Pensando num cenário no qual o adolescente vá às compras, é provável que mesmo que se esforce não consiga lembrar todos os itens e marcas utilizados em casa. Além disso, ele pode se sentir tentado a comprar alguns itens que julgue de primeira necessidade, mas que efetivamente não são: refrigerante, salgadinho, sorvete, bolacha recheada, etc.

Mas você pode melhorar a governança do processo de compras fazendo uma lista! Com uma lista de compras feita por qualquer membro da família que conheça um pouco da administração do lar o adolescente poderá ir ao mercado, mesmo com pouca experiência. A lista também poderá fazer com que  o portador adolescente resista ao seu paladar juvenil e compre apenas o indispensável para a casa. Mas ainda há um problema: e se o filho for ao mercado e não encontrar o café previsto na lista? Deve comprar de outra marca (sem conhecer) ou voltar para casa sem o café? Ir ao mercado novamente poderia representar custos. Uma opção será enviar uma mensagem por smartphone, assim você ou sua esposa poderão orientar qual café o adolescente poderá trazer. Eis outra vertente dos conselhos e dos órgãos de governança: ajudar o gestor a tomar decisões importantes ou inesperadas.

Os órgãos/setores de governança têm a função de direcionar (Há necessidade de fazer compras? Quais os itens de mercado são importantes para manter a casa?), monitorar (auxiliar o processo de compras e acolher a prestação de contas) e avaliar (ver se os itens necessários foram comprados, sem desperdício de recursos). À Gestão cabe planejar com a margem dada pela governança (no exemplo: pode escolher o horário de ir ao mercado, a condução, se vai pesquisar preço em mais de um mercado ou não, combinar a entrega), executar (fazer as compras), controlar (todas as tarefas necessárias para se fazer as compras). Há que se ter o controle da gestão de risco (compliance): cuidado para não perder o cheque; cuidado para não perder as compras; gasto somente com o necessário; há que se guardar nota fiscal na carteira e agir de forma proativa para atingir os objetivos que envolvem a manutenção do lar.    

Uma função indispensável à gestão é prestar contas; afinal para que os órgãos/setores de governança possam monitorar e avaliar é necessário uma prestação de contas proativas e um feedback constante por parte da gestão. Imagine se quando você encarregasse alguém de ir ao mercado essa pessoa perdesse a nota fiscal, perdesse itens ou não se lembrasse do valor do cheque? A prestação de contas constante chama-se accountability e remete à transparência e integridade. O portador não presta contas apenas por obrigação, mas o faz porque entende que é necessário ao processo de gestão e governança, por questão de princípios.

Aliás, aproveitando a analogia, em se tratando de educação dos filhos, se você sabe que lhes proporcionou uma boa educação, pode concluir que eles são íntegros. Então, por que seguir tantas regras de governança? Uma das respostas é que, embora bem criados, eles não têm experiência em ir ao mercado. A outra é que a governança vai educá-los continuamente a ter como meta os objetivos do lar. Mas se temos tantas regras de governança, então não preciso me preocupar com a índole do meu filho? Não se rata disso! Apesar de todas as regras de governança, o portador do cheque pode, ao invés da compra, chegar em casa com um celular novo ou voltar para casa com um "bilhete premiado". Eis a importância de se trabalhar a integridade na sociedade e no mundo corporativo em geral.

Por fim, cumpre tecer certas considerações sobre compliance. Compliance, seguindo nosso raciocínio, “é o momento em que você respira aliviado” e se certifica de que o seu filho tem habilidade compatível com a idade dele para fazer as compras do mês e, principalmente, que é integro o suficiente para portar um cheque em branco, ao chegar em casa com as compras do mês, apresentar a nota fiscal, explicando alguma situação de anormalidade (provocada por sua responsabilidade ou não) que tenha ocorrido no "processo de fazer compras" sem precisar de maiores investigações.

Acesse também os materiais complementares:

Governança no IFPR

Porque compliance se tornou

a palavra da moda?

Conteúdo audiovisual 2

Compliance na prática: a importância da cultura organizacional

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IN 01/2016 CGU/MP

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Art. 2o Para fins desta Instrução Normativa, considera-se:

I - accountability: conjunto de procedimentos adotados pelas organizações públicas e pelos indivíduos que as integram que evidenciam sua responsabilidade por decisões tomadas e ações implementadas,incluindo a salvaguarda de recursos públicos, a imparcialidade e o desempenho das organizações;

(...)

VIII - governança: combinação de processos e estruturas implantadas pela alta administração, para informar, dirigir, administrar e monitorar as atividades da organização, com o intuito de alcançar os seus objetivos;

(...)

IX - governança no setor público: compreende essencialmente os mecanismos de liderança, estratégia e controle postos em prática para avaliar, direcionar e monitorar a atuação da gestão, com vistas à condução de políticas públicas e à prestação de serviços de interesse da sociedade;

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